Sempre achei curioso o termo “Kafkiano” relativo
ao absurdo, ao surreal, ao inimaginável ou impensável… sem dúvida, Franz Kafka,
foi um dos escritores mais marcantes do século XX.
O que me fascina neste autor prende-se com a
análise do ponto de vista psicológico – o curioso, particular e subjetivo mundo
da introspeção, a mudança e o processo metamórfico, o pessimismo, a angústia
existencial, presenteados na sua obra.
Em Metamorfose (escrita há 100 anos atrás) Kafka
retrata a história de um homem, figura central e de sustento da sua família,
que acorda transformado num inseto e cuja vida se vê completamente alterada, derivada
da sua nova forma e condição. Através do processo metamórfico da personagem,
Kafka apresenta uma crítica à sociedade do início do século passado, espelhada
pelo desânimo e descrença.
Em vésperas da Primeira Grande Guerra Mundial, a
obra de Kafka surge como uma expressão literária equivalente ao Grito de Edvard
Munch (1893), alertando para o pensamento “rolo compressor” da sociedade
vigente, que restringiu muitas vezes o valor do ser humano à aparência robotizada…
A intensidade de Kafka, apesar de sombria,
pessimista e por vezes, angustiante, não deixa de conter um interessante e
metafórico retrato crítico do sentimento de exclusão, da crise social e das
contradições das dinâmicas do sistema familiar (tão evidente na relação de Franz
Kafka com o seu pai).
De facto, existem labirintos com corredores e
encruzilhadas sombrias e frias, que podem induzir verdadeiras sensações de
sufoco. Porém, o desafio labiríntico reside em não ficar preso, nem definhar nele;
há que continuar, prosseguindo até à sua saída.
É, no mínimo, desafiante nadar nas águas
profundas da existência, podemos mergulhar bem fundo, mas devemos transportar
oxigénio suficiente para voltar à superfície, sempre.