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terça-feira, 6 de novembro de 2012

O labirinto de Kafka

Sempre achei curioso o termo “Kafkiano” relativo ao absurdo, ao surreal, ao inimaginável ou impensável… sem dúvida, Franz Kafka, foi um dos escritores mais marcantes do século XX.
 
O que me fascina neste autor prende-se com a análise do ponto de vista psicológico – o curioso, particular e subjetivo mundo da introspeção, a mudança e o processo metamórfico, o pessimismo, a angústia existencial, presenteados na sua obra.
 
Em Metamorfose (escrita há 100 anos atrás) Kafka retrata a história de um homem, figura central e de sustento da sua família, que acorda transformado num inseto e cuja vida se vê completamente alterada, derivada da sua nova forma e condição. Através do processo metamórfico da personagem, Kafka apresenta uma crítica à sociedade do início do século passado, espelhada pelo desânimo e descrença.
 
Em vésperas da Primeira Grande Guerra Mundial, a obra de Kafka surge como uma expressão literária equivalente ao Grito de Edvard Munch (1893), alertando para o pensamento “rolo compressor” da sociedade vigente, que restringiu muitas vezes o valor do ser humano à aparência robotizada…
 
A intensidade de Kafka, apesar de sombria, pessimista e por vezes, angustiante, não deixa de conter um interessante e metafórico retrato crítico do sentimento de exclusão, da crise social e das contradições das dinâmicas do sistema familiar (tão evidente na relação de Franz Kafka com o seu pai).
 
De facto, existem labirintos com corredores e encruzilhadas sombrias e frias, que podem induzir verdadeiras sensações de sufoco. Porém, o desafio labiríntico reside em não ficar preso, nem definhar nele; há que continuar, prosseguindo até à sua saída.
 
É, no mínimo, desafiante nadar nas águas profundas da existência, podemos mergulhar bem fundo, mas devemos transportar oxigénio suficiente para voltar à superfície, sempre.