Aproxima-se, tal veloz cruzeiro, uma
festividade com raízes anglo-saxónicas, embora atualmente esteja totalmente
globalizada, sim... refiro-me ao Halloween, ou Dia das Bruxas. Com origens pagãs e
desviada do sentido que lhe foi conferido resta-nos, hoje, a diversão mantendo-se o uso de disfarces e máscaras.
De facto, o Homem sempre se fascinou pelo
disfarce, pela possibilidade de vestir uma outra pele que não a sua e... já
alguém disse “todos vêem aquilo que pareces, poucos sentem o que és”.
Importado da (sua) poltrona analítica, Jung
introduziu um conceito resultante do arquétipo persona (a máscara ou o papel
usados pelo ator-indivíduo) referindo-se
aos nossos comportamentos escrutinados ao nível dos papéis sociais, a forma e o
conteúdo que são apresentados ao mundo. São apenas ligeiras faces do nosso Self. Veja-se que não devem ser entendidas de forma pejorativa,
pois representam um filtro adaptativo e de inserção, importante para o nosso
próprio desenvolvimento. No entanto, não devem ser confundidas com o Self e (já a Gestalt dizia) “ o todo é
maior do que a soma das partes”.
De facto, este conceito (máscara) remonta a
tempos recônditos, passando pelas origens do teatro e da tragédia grega – da
manifestação emocional nos palcos dionísicos, às manifestações de homenagem
fúnebre dos egípcios, aos rituais xamânicos - a máscara assume-se como o
passaporte para o imaginário, para o simbolismo. Desde os tempos da Idade Média
que os bailes eram assegurados pelas vestes e máscaras festivas, pelo que todos
se permitiriam à doce face do anonimato.
Simbolismo, anonimato… de certa
forma, a máscara pode ser encarada
como um molde de transformação, sendo
que o que pode ser experienciado através de um papel poderá mais tarde ser
integrado na própria identidade, e… não será isso viver?
Se a vida é um palco e nós os atores,
certamente, usar-se-ão diferentes máscaras consoante os papéis. O desafio
consiste em não ficar preso na envolvência de uma máscara, pois corre-se o
risco desta tomar a forma dos contornos do rosto e ficar muito difícil de tirar,
confundindo-se com este. Sem dúvida, por mais bonita ou impressionante que seja
a máscara, o interesse residirá sempre na resolução do enigma: quem se encontra
e se esconde por detrás dela?