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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Anormalmente normal.

Assisti há dias a um interessante debate acerca de duas "dimensões", cuja fronteira pode suscitar, ainda, muita ambiguidade - a eterna questão orthos vs pathos.
Estará a sociedade a produzir indivíduos com fobia à especificidade, e cujo primordial desejo é ser única e absolutamente normal, como os outros? Longe dos desvios padrão, bem aconchegados no conforto da curva de Galton…
 
Porém, a questão não reside na normalidade, mas no seu caráter totalista e absoluto. Vejamos, a sociedade é composta por  indivíduos com diferentes características, capacidades, competências, limitações e perturbações, falamos de pessoas e não de robots.
 
De facto, não resisto em referir um pathos da sociedade contemporânea: ser-se anormalmente normal. A normopatia (conceito introduzido pela psicanalista Joyce McDougall) é gerada por processos e mecanismos de defesa contra a desorganização e anomalias psíquicas.
Bem adaptados, contrastando com as classificações antagónicas clássicas de neurose e psicose, os normopatas apresentam uma enorme dificuldade em imergir no seu mundo interno. Christopher Bollas denomina-os como pessoas demasiadamente normais, estáveis, sociáveis, centrados unicamente na realidade exterior, funcionando como uma resposta “eco” de imitação, uma sombra da objetividade que aniquila a subjetividade interior…
 
Com o fervilhar da sociedade, novas exigências vão sendo requeridas como modelo de sucesso: altos, magros, esbeltos, inteligentes, de uma segurança implacável, tranquilos, assertivos (…) normais, mas… onde reside a diferença e a deliciosa idiossincrasia que nos distingue e, ao mesmo tempo, nos une profundamente?