Assisti há dias a um interessante debate acerca de duas "dimensões", cuja fronteira pode suscitar, ainda, muita ambiguidade - a eterna questão orthos vs pathos.
Estará a sociedade a produzir indivíduos com fobia à especificidade, e cujo primordial desejo é ser única e absolutamente normal, como os outros? Longe dos desvios padrão, bem aconchegados no conforto da curva de Galton…
Estará a sociedade a produzir indivíduos com fobia à especificidade, e cujo primordial desejo é ser única e absolutamente normal, como os outros? Longe dos desvios padrão, bem aconchegados no conforto da curva de Galton…
Porém, a questão não reside na normalidade, mas no seu caráter
totalista e absoluto. Vejamos, a sociedade é composta por indivíduos com
diferentes características, capacidades, competências, limitações e
perturbações, falamos de pessoas e não de robots.
De facto, não resisto em referir um pathos da sociedade contemporânea: ser-se anormalmente normal. A
normopatia (conceito introduzido pela psicanalista Joyce McDougall) é gerada
por processos e mecanismos de defesa contra a desorganização e anomalias
psíquicas.
Bem adaptados, contrastando com as classificações antagónicas
clássicas de neurose e psicose, os normopatas apresentam uma enorme dificuldade
em imergir no seu mundo interno. Christopher Bollas denomina-os como pessoas demasiadamente
normais, estáveis, sociáveis, centrados unicamente na realidade exterior,
funcionando como uma resposta “eco” de imitação, uma sombra da objetividade que
aniquila a subjetividade interior…
Com o fervilhar da
sociedade, novas exigências vão sendo requeridas como modelo de sucesso: altos,
magros, esbeltos, inteligentes, de uma segurança implacável, tranquilos,
assertivos (…) normais, mas… onde reside a diferença e a deliciosa
idiossincrasia que nos distingue e, ao mesmo tempo, nos une profundamente?