“The ancients
called me Utopia or Nowhere because of my isolation.”
Escrita em 1516 Utopia de (Saint) Thomas More é uma das obras mais
marcantes do humanismo europeu. Perspetivado como um lugar regido pela razão,
com pluralismo e liberdades religiosas, onde a mulher tem lugar destacado e a
educação é promovida para todos – a ilha de More era, sem dúvida, no século XVI
um Nowhere, uma Never Land, algo idealizado e “impossível” de ser concretizado (!),
embora perfeitamente aceitável nos tempos de hoje…
O que teria passado pela cabeça de
More para desafiar os dogmas instituídos numa sociedade tão pré-determinada?
Que impossibilidades inatingíveis podem pautar a ação do pensamento,
catapultando-o numa visão oraculiana, constando hoje como a normalidade contemporânea?
Por sua vez, existem também os
detratores dos cenários de algodão doce, visionando, a catástrofe, o medo e a
violência como futuro, com regimes totalitários, promotores de vigílias
asfixiantes e das experiências de laboratório. 1984 (George Orwell), soa-lhe
familiar? Pois, os filhos da utopia desiludidos com a (atual/futura)
sociedade visionam um cenário catastrófico pintado de negro, a anti-utopia, chamemos-lhe
de cacotopia ou pensamento distópico.
Ah! Mas não estarão os filhos da utopia
a prestar a maior homenagem à sua progenitora, numa espécie de relação
amor-ódio, digna da poltrona freudiana? Através da sátira
e da crítica procuram sensibilizar e mobilizar a humanização… mas não é este um
dos ideais utópicos? Poderá ser a distopia igualmente utópica, concedendo um profundo fundamento à existência do oxímoro?
No fundo, há sempre um motivo para resistir, persistir para perpetuar o mais ínfimo raio de luz nas trevas, pois sem o outro lado da moeda, não há movimento, e só há yang se houver yin…
No fundo, há sempre um motivo para resistir, persistir para perpetuar o mais ínfimo raio de luz nas trevas, pois sem o outro lado da moeda, não há movimento, e só há yang se houver yin…