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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os filhos da utopia.

“The ancients called me Utopia or Nowhere because of my isolation.”
Escrita em 1516 Utopia de (Saint) Thomas More é uma das obras mais marcantes do humanismo europeu. Perspetivado como um lugar regido pela razão, com pluralismo e liberdades religiosas, onde a mulher tem lugar destacado e a educação é promovida para todos – a ilha de More era, sem dúvida, no século XVI um Nowhere, uma Never Land, algo idealizado e “impossível” de ser concretizado (!), embora perfeitamente aceitável nos tempos de hoje…
 
O que teria passado pela cabeça de More para desafiar os dogmas instituídos numa sociedade tão pré-determinada? Que impossibilidades inatingíveis podem pautar a ação do pensamento, catapultando-o numa visão oraculiana, constando hoje como a normalidade contemporânea?
 
Por sua vez, existem também os detratores dos cenários de algodão doce, visionando, a catástrofe, o medo e a violência como futuro, com regimes totalitários, promotores de vigílias asfixiantes e das experiências de laboratório. 1984 (George Orwell), soa-lhe familiar? Pois, os filhos da utopia desiludidos com a (atual/futura) sociedade visionam um cenário catastrófico pintado de negro, a anti-utopia, chamemos-lhe de cacotopia ou pensamento distópico.
 
Ah! Mas não estarão os filhos da utopia a prestar a maior homenagem à sua progenitora, numa espécie de relação amor-ódio, digna da poltrona freudiana? Através da sátira e da crítica procuram sensibilizar e mobilizar a humanização… mas não é este um dos ideais utópicos? Poderá ser a distopia igualmente utópica, concedendo um profundo fundamento à existência do oxímoro?
No fundo, há sempre um motivo para resistir, persistir para perpetuar o mais ínfimo raio de luz nas trevas, pois sem o outro lado da moeda, não há movimento, e só há yang se houver yin…