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terça-feira, 31 de julho de 2012

A maior de todas as artes.


Do latim ars, entende-se por arte uma competência, habilidade e/ou técnica de desempenho nas mais variadas dimensões e formas. Sempre que se fala em arte, pensa-se em criatividade, estética, emoção; um produto imaginativo, uma forma de ver e de viver.

No entanto, a definição de arte não é consensual, variando com o factor cultural e com o tempo per si, apresentando-se como uma “construção” variável e mutável – mas haverá definição mais artística do que esta?

Um artista vive e transpira arte, mas não será a vida em si uma arte?
No fundo somos todos criadores desta complexa forma de arte, resultante da audácia dos saltos de trapézio sem rede, do aperfeiçoamento derivado da auto-aprendizagem. Mas é preciso (re)lembrar: esta arte não é consensual! Muitos estarão um pouco “à frente do seu tempo”, sendo apreciados apenas mais tarde.

Ninguém disse que vida de artista é fácil ou pouco sinuosa, há que gerir as apreciações dos críticos, mas o mais importante é não perder a sua veia… de artista. Como Brecht disse um dia: “Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver”.

terça-feira, 24 de julho de 2012

“Suportar lagartas para conhecer as borboletas”.

“Se tiver de suportar duas ou três lagartas, para chegar a conhecer as borboletas, não faz mal. Dizem que é tão bonito…”. Em 1943, Antoine Marie Roger de Saint-Exupéry escrevia “Le Petit Prince”, em português o “Principezinho” deixando para a história da literatura uma obra mundialmente (re)conhecida. 


Tido para muitos como um livro para crianças, esta obra reúne metáforas encontradas nos contos infantis e nas fábulas imortalizadas pela fantasia e o fantástico; porém, o Principezinho é sobretudo uma dissertação sobre o mundo, proliferada com profundas reflexões filosóficas.


Efectivamente antes de chegar a borboleta, a lagarta ainda passará ao estádio de crisálida, tal obra de arte que está em composição, em crescimento ovular contendo a potencialidade do ser.


Embora os holofotes incidam sobre uma obra no seu estado final, é sem dúvida no processo metamórfico que reside o maior interesse derivado do investimento e desgaste, nem sempre atractivos, mas essenciais. Ah e há borboletas mais raras do que outras…


Por isso, talvez compense suportar algumas lagartas e crisálidas, quanto mais não seja para saber reconhecer as mais resplandecentes borboletas… e pelo caminho pode ser que (re)encontre o seu Principezinho, pois como Saint-Exupéry disse: “Todas as pessoas crescidas foram primeiro crianças. Mas poucas se lembram disso.”








terça-feira, 17 de julho de 2012

"Não te rendas"

Reli há dias Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio que escreveu o brilhante poema “Não te rendas” – título original “No te rindas”.

Destaca-se nestas empáticas frases, tecidas pelo poeta latino-americano, a alusão às intempéries e aos desafios que muitas vezes abalam um dos alicerces das fundações do ser-humano – o  seu amor-próprio, a sua auto-estima.

Aceitar sombras, enterrar medos e libertar o lastro, retomar o voo para continuar a viagem e perseguir os sonhos. Ora aqui está o mote para um verdadeiro (e resiliente) processo psicoterapêutico transcrito em versos; a complexidade descrita através da simplicidade e da beleza das palavras…

Uma excelente mensagem fácil de entender, por vezes difícil de pôr em prática, porque antes de fazer há que querer; mas convém relembrar “ainda há fogo na tua alma, ainda há vida nos teus sonhos” e mais importante de tudo: “a vida é tua e cada dia é um novo começo”. Não te rendas!


No te rindas,
aún estás a tiempo
De alcanzar y comenzar de nuevo,
Aceptar tus sombras,
Enterrar tus miedos,
Liberar el lastre,
Retomar el vuelo.
No te rindas que la vida es eso,
Continuar el viaje,
Perseguir tus sueños,
Destrabar el tiempo,
Correr los escombros,
Y destapar el cielo.
No te rindas, por favor no cedas,
Aunque el frío queme,
Aunque el miedo muerda,
Aunque el sol se esconda,
Y se calle el viento,
Aún hay fuego en tu alma
Aún hay vida en tus sueños.
Porque la vida es tuya y tuyo
también el deseo
Porque lo has querido
y porque te quiero
Porque existe el vino y el amor,
es cierto.
Porque no hay heridas
que no cure el tiempo.
Abrir las puertas,
Quitar los cerrojos,
Abandonar las murallas
que te protegieron,
Vivir la vida y aceptar el reto,
Recuperar la risa,
Ensayar un canto,
Bajar la guardia
y extender las manos
Desplegar las alas
E intentar de nuevo,
Celebrar la vida y retomar los cielos.
No te rindas, por favor no cedas,
Aunque el frío queme,
Aunque el miedo muerda,
Aunque el sol se ponga
y se calle el viento,
Aún hay fuego en tu alma,
Aún hay vida en tus sueños
Porque cada día
es un comienzo nuevo,
Porque esta es la hora
y el mejor momento.
Porque no estás solo,
porque yo te quiero.
Não te rendas,
pois ainda é tempo
De alcançar e começar de novo,
Aceitar as tuas sombras,
Enterrar os teus medos,
Libertar o lastro,
Retomar o voo.
Não te rendas, que a vida é isso,
Continuar a viagem,
Perseguir os teus sonhos,
Destravar o tempo,
Remover os escombros,
E destapar o céu.
Não te rendas, por favor não cedas,
Mesmo que o frio queime,
Mesmo que o medo morda,
Mesmo que o sol se esconda,
E se cale o vento,
Ainda há fogo na tua alma,
Ainda há vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua, e teu
é também o desejo
Porque o quiseste
e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor,
é certo.
Porque não há feridas
que não cure o tempo.
Abrir as portas,
Tirar os ferrolhos,
Abandonar as muralhas
que te protegeram,
Viver a vida e aceitar o repto,
Recuperar o riso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda
e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo,
Celebrar a vida e retomar os céus.
Não te rendas, por favor, não cedas,
Mesmo que o frio queime,
Mesmo que o medo morda,
Mesmo que o sol se ponha
e se cale o vento,
Ainda há fogo na tua alma,
Ainda há vida nos teus sonhos
Porque cada dia
é um começo novo,
Porque esta é a hora
e o melhor momento.
Porque não estás só,
porque eu te quero.

(Autoria: Mário Benedetti; tradução Inês Pedrosa)




terça-feira, 3 de julho de 2012

O descanso do cansaço e... o cansaço do descanso

Tempo de férias, mudança de hábitos e da rotina de trabalho…agora há que estabelecer uma nova rotina…nem que seja a de descanso! Porém, a altura veranil nem sempre é sinónimo de descansar. Já alguma vez conheceu alguém com pavor e alergia a férias?

O que fazer? Para onde ir? Como ocupar o ócio? Nem sempre se descansa nas férias…há quem saia baste cansado delas.


Se é daquelas pessoas que não vive sem o trabalho às costas, sem desligar da corrente, saiba que há momentos em que a própria electricidade tem falhas, pequenos cortes, como suspiros se tratassem, recuperando o fôlego possível...

Nunca a expressão workaholic proliferou como agora, seja pelas especificidades do mercado de trabalho, a progressiva exigência laboral, a pressão de ter sucesso, as questões de foro pessoal, enfim inúmeros factores catalisadores deste (exaustivo) vício. E se falamos em vício referimo-nos a implicações na qualidade de vida…


Segundo um estudo da Regus, mais de metade dos trabalhadores portugueses (57%) não descansará suficientemente durante o período de férias, na medida em que, pelo menos, estará a trabalhar 3 horas por dia. Uma percentagem mais baixa irá negligenciar, neste período, amigos e família em detrimento do trabalho. Se isto lhe é muito familiar, poderá estar imiscuído nas malhas do workaholism, sim o vício do trabalho.


Não se confunda rigor, disciplina, trabalho com ausência de descontração, relaxamento e diversão… e férias são férias… ou não? Pelo menos conceda uns momentos de descanso ao seu smartphone, tablet, netbook, laptop e outras tecnologias e afins… afinal lembra-se de viver antes do aparecimento desta fabulosa e útil "parafernália", certamente...


Se é daqueles, que pelo contrário, conta exaustivamente todos minutos para o período de férias, tenha calma, já falta(rá) pouco, aproveite muito, descanse do cansaço acumulado durante o ano.


Porém, se é dos que se cansam do descanso, não se pre-ocupe, pode sempre aproveitar o tempo livre para estar consigo mesmo, relaxar e descansar, vai ver que não é tão cansativo assim…