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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Amanhã… fica (sempre) longe demais.

Fonte de desespero para uns e de intolerância para outros: a eterna fuga para a frente. “Amanhã faço, sem falta”. Mas na maioria das vezes, é mesmo em falta. Procrastinação, conhece? Aqui ficam alguns sintomas:
 
- Evitar e protelar tarefas;
- Distrair-se facilmente e fazer outras coisas não relevantes;
- Sentir-se culpado por não atingir os seus objetivos;
- Adiar as prioridades;
- Ter dificuldade em tomar decisões;
- Não cumprir a horas os compromissos;
- Passar a vida stressado por não gerir o tempo;
- Ter resultados abaixo do esperado com reflexo na produtividade;
(…)
 
A procrastinação não é nada mais do que a protelação e o adiamento de uma ação; pode estar associada a várias causas: ansiedade, baixa auto-estima (relação “pescadinha de rabo-na-boca”); síndrome do estudante (dá mais adrenalina); perfeccionismo…
 
Ao ficar preso nas malhas da indecisão e da inoperatividade, o mais provável será desenvolver um desânimo aprendido cíclico, com sentimentos de culpa e de incapacidade.
Saiba que a melhor forma de sair de um ciclo vicioso é reconhecer que se encontra dentro dele, para depois rompê-lo, tal tempestade ciclónica!
 
Aqui ficam algumas dicas:
Atenção: ou o caro leitor continua a ler, ou então, deixa para mais tarde, saiba que a opção é sempre sua!
Dar início. “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje” e o povo lá aconselha, para se fazer qualquer coisa começa-se pelo início (verdade à La Palice!). Então, porque não começar logo pela manhã, no princípio do dia? Assim, evita tarefas circulares e desnecessárias.
 
 Preparar. Se estiver na presença de uma tarefa mais exigente, convém prepará-la bem, ver o que se precisa (quais os requisitos) e o que é essencial para um bom começo.
 
Estabelecer prioridades. Se tiver dificuldades lembre-se da expressão “first things first” se tem de fazer uma casa, não começa pelo telhado, certamente... Há alicerces, por isso, construa os alicerces da sua tarefa e depois parta para o resto.
 
Estabelecer prazos. Depois de um início há que delinear um fim. Projete um prazo para a conclusão e alcance da tarefa ou objetivo. A melhor forma de procrastinar é deixar em aberto a conclusão, (hoje, amanhã, daqui a um ano…). Deste modo, aponte no calendário a data x como o terminus da tarefa.
 
Criar um hábito contínuo. Se estiver comprometido com um objetivo pessoal a longo prazo (desporto, por exemplo), pratique-o todos os dias estabelecendo-lhe um horário predestinado, e já agora se conseguir arranjar companhia, melhor, ajuda-o a reforçar o seu comportamento e… a união faz a força!
 
Criar um compromisso. Comprometa-se! Escreva num papel, grave um áudio, diga aos amigos, mas mais importante de tudo: diga a si próprio o que quer e faça-o! Lembre-se que a procrastinação pode causar efeitos indesejáveis a quem o rodeia, nos mais diversos contextos, mas há uma pessoa que vai ficar a mais desiludida de todos, pois já sabe quem é…
 
Combater as distrações. Livre-se ou ponha de lado qualquer parafernália que o distraia e que sirva como desculpa para não terminar, ou impedir de começar. São os principais adversários, pois são os primeiros a quem recorre para protelar e adiar… deixe-os sossegados pois terá (ainda) muito tempo para lhes dedicar.
 
Visualizar. Imagine como vai sentir-se ao terminar uma tarefa, ao atingir um objetivo, e sinta como será ultrapassar a barreira psicológica da gestão do tempo.
 
Já agora, se sofre de um mal chamado perfeccionismo, saiba que não há nada mais imperfeito do que ter medo de não ser perfeito. Termino com uma leve provocaçãozinha...
 
Nota: Sugerem-se estas dicas o que não quer dizer que as tenha de seguir biblicamente, lembre-se quem é de facto o agente de mudança… porém, se tem alguma coisa importante para fazer, o melhor será mesmo começar porque o amanhã fica (sempre) longe demais.

 
 
P.S. Deixei de procrastinar e escrevi o texto conforme o Acordo Ortográfico. Ah! Foi bem desafiante... eu bem sei que "old habits die hard".

terça-feira, 21 de agosto de 2012

The time is now.

Parece eterna a questão do tempo psicológico. Como vivemos e experienciamos os momentos, como nos ocupamos mentalmente: com memórias passadas, com projectos atingir no futuro, no que se faz no presente?

Philip Zimbardo e John Boyd presenteiam-nos com “The Time Paradox”, o Paradoxo do Tempo, decifrando alguns paradoxos e desvendando comportamentos orientados temporalmente. Para os autores, a atitude perante a orientação ou perspectiva temporal tem um impacto importante na nossa qualidade de vida, porém poucos têm consciência disso. Uma importante ilação desta obra, prende-se com o facto da orientação temporal ser aprendida e, aquando da tomada de consciência, ser modificável.

Existem pessoas com orientação para o passado geralmente muito arreigadas às tradições, ao núcleo familiar… às memórias. É claro que a orientação pode ser positiva, mas também pode ser o oposto… o cerne das pessoas altamente orientadas para este tempo é o facto de estarem “presas”, encalhadas num momento.

As pessoas com orientação para o futuro geralmente têm bons resultados académicos, bons profissionais, organizados, mas apresentam baixíssima tolerância ao inesperado, à frustração, a pequenas coisas como a simples demora no trânsito, é uma enorme perda de tempo…

Já pensou que quando se ignora o presente e se olha, primordialmente, para o passado ou para o futuro em busca da felicidade, pode-se perder a que está mesmo à frente do nosso nariz? Eu explico, o tempo passado ou o tempo futuro, são construções mentais, no fundo “vividas” no presente (a sua mente irá recordar ou projectar emoções); deste modo ao ocupar a sua mente com esses tempos, poderá não prestar atenção ao momento físico e real. Quem sabe até poderia ser um daqueles importantes para tempos futuros, ou uma boa memória para recordar… dá que pensar.

Um dos paradoxos do tempo prende-se com a orientação no presente, necessária para se aproveitar a vida, mas esta orientação em demasia pode subtrair felicidade, é em si um paradoxo. Cair em rotina, e na automatização dos comportamentos acaba por ser contraproducente, mas uma orientação altamente centrada no presente hedonista tem o reverso da medalha, e como alguém disse um dia, “o que é demais é erro”…

Como já deve ter percebido, no inigualável mundo das ciências humanas, não há lógicas a preto e branco, neste específico caso trata-se de orientações temporais que foram construídas por si, no seu processo de desenvolvimento. Isto não significa que tenha de funcionar assim ad aeternum

Acima de tudo, (na minha opinião) seja qual for a sua orientação mais vincada, passado, presente, futuro, pense num tempo mais determinante do que todos, o agora. Esteja a recordar momentos do passado, que funcionam como âncoras alicerçadoras da sua felicidade, ou a mudar as suas atitudes face a acontecimentos passados; a desfrutar a alegria do momento; ou a traçar objectivos a atingir brevemente, o que estiver a fazer, está a fazê-lo agora. O que quiser mudar faça-o, agora. Esse é o tempo mais determinante de todos. Agora.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Chama

Segundo a mitologia, Prometeu roubou o fogo (sagrado) de Zeus para o entregar aos mortais; era conhecido pela sua astúcia, inteligência, porém a sua audácia seria paga à melhor maneira da tragédia grega… De Ésquilo a Goethe, o imaginário de semi-deuses, que ultrapassam obstáculos impossíveis e herculineos, sempre povoou o pensamento ocidental, como uma veia motriz e motivadora para acção.

Mas o que mantém a psique activa, interessada, motivada -  o que nos chama?    
Foto original
Estarmos motivados, interessados e activos como fogo-de-artifício (lindo por sinal!) tem um carácter espectacular mas efémero, pois transformar a faísca em chama, mantê-la acesa e forte, exigirá bastante empenho e audácia q.b.
                                                                                    
                           
A atitude (predisposição interna, estável e duradoura em relação a determinado objecto social, composta pelas componentes afectiva, cognitiva e comportamental) funciona como ignição e catalisador para a chama, sendo que ninguém pode apagá-la, excepto nós.  É esse o busílis da questão, obviamente haverá factores e condicionantes de ordem externa, mas a chama só se apaga quando quisermos; e é claro, podemos sempre reacendê-la.

Certamente ter-se-á de correr riscos, enfrentar obstáculos, sair da zona de conforto… mas o "fogo sagrado" compensará tal ousadia.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Nocebo: o gémeo malvado.

Nocebo já ouviu falar? Lembra-se do efeito placebo? Pense no seu oposto, apresento-lhe como já alguém disse, o gémeo malvado: o nocebo.

Na década de 60 do século passado, Walter Kennedy introduziu este conceito como o oposto do efeito placebo, isto é a ocorrência de efeitos colaterais indesejáveis após a administração de substâncias/drogas inertes e inócuas, ou de qualquer agente que possa interagir com o organismo nesse sentido.
O agravamento da sintomatologia e mudança na percepção do estado de saúde é derivado do sistema de crenças, das expectativas, da (auto)sugestão do indivíduo, que pensa (e sente) que aquilo lhe vai fazer mal.

Kennedy defendeu ainda o termo "reacção nocebo" quando se referia especificamente a uma qualidade inerente ao indivíduo mais do que à substância per si.
Importado da medicina e da farmacologia, esta reacção pode ser reconhecível no campo psicológico, sim essas coisas da mente…
Conhece aquelas pessoas que, quando têm de tomar um medicamento, a primeira coisa que fazem é ler os indesejáveis efeitos secundários? E aqueles a quem disser que estão com má cara, começam a sentir-se imediatamente doentes? Ah e os que estão sempre prontos a dizer: “Tens a certeza, se fosse a ti… não digas que não te avisei… já pensaste nas consequências?!”
Pronto, pronto já chega… Este texto pretende apenas alertar para a reacção do gémeo malvado que se pode causar nos outros, e sobretudo em nós mesmos.

Sempre que produz uma expectativa negativa poderá estar a auto-sugestionar-se e boicotar o seu comportamento acarretando esses efeitos colaterais… concedendo ao gémeo malvado maior espaço de manobra. Ponha-o em “time out” e reforce positivamente o comportamento do gémeo bom.
Se nos apercebermos das constantes mensagens que o nosso diálogo interior nos murmura ao cantinho do cérebro, podemos operar na  sua influência. Eu sei que ele fala de um modo automático e, por vezes, repetitivo, mas quem lhe dá ouvidos somos nós… se ele alguma vez lhe disser: “Já sei como vai ser, corre sempre mal!”. Pode responder-lhe baixinho: “Ai sim? Isso é o que vamos ver! Para já sinto-me bem… muito bem!”.