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sexta-feira, 30 de março de 2012

Na crista da onda

Há dias estava na praia, numa conversa animada com uns amigos e reparei num grupo de surfistas que deslizavam nas ondas de um mar picado e gelado, agreste mesmo. Admiro particularmente o entusiasmo e a satisfação que retiram do constante desafio com as águas salgadas.

Fez-me lembrar Harrison Owen (Wave Rider: Leadership for High Performance in a Self-Organizing World) acerca da idiossincrasia dos wave riders, que têm uma capacidade de se deixarem levar (go with the flow) e de se superarem perante a dificuldade, enquanto que outros vêem desgraça ou falhanço.
Mas, para se aprender a “andar na onda” (um oximoro interessante) é necessário experimentar e adaptar a nossa forma andar. Dizia um meu amigo: “Não se estuda a andar no mar. Experiencia-se, aprende-se perante as ondas!” Na verdade, tirando a pequena lição de equilíbrio na prancha que é feita no areal, só dentro de água é que se experiencia e aprende, realmente, a surfar…

É e claro que há diferentes ondas, de diferentes tamanhos e intensidades, com maior corrente, perto de rochas perigosas… Cada momento no mar consiste num desafio, numa oportunidade de “atacar a onda”. É espectacular quando vemos alguém surfar na crista de uma onda com um tamanho imenso, deslizando, flutuando…

A conversa continuou: “há que ver as condições antes de ir para o mar, se o vento está a favor, como está a corrente… e depois há que entrar!”. Atitude, perspectiva, avaliação e decisão. Determinar as condições e como vou lidar com elas, para atacar e aproveitar uma boa onda.

Recorrendo à analogia do surf para a encarar o processo de desenvolvimento, percebemos que ninguém nos ensinou a andar, fomos aprendendo, caindo e levantando. Mais interessante, ainda, criamos um andar, único. Se se pensar que a única constante é a mudança (Heraclitus), certamente aparecerão muitas ondas, umas mais difíceis outras mais fáceis, e aquelas assustadoras, que no final poderão ser as que mais orgulhosamente recordaremos de ter surfado (na crista).

Ao pensar em tudo isto vejo, sem dúvida, um excelente exemplo de resiliência. Nunca a expressão “na crista da onda” fez tanto sentido.


segunda-feira, 26 de março de 2012

A hipnoterapia nos acufenos. Rescaldo de um Workshop multidisciplinar…

No passado Sábado (24/03/12) estive na ESTSP - Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto (a quem agradeço o gentil contive) a falar sobre a hipnoterapia, no âmbito do Workshop da abordagem multidisciplinar na terapia dos acufenos. Sem dúvida, que a abordagem multidisciplinar se tem revelado como uma mais-valia para este sintoma otoneurológico, que se apresenta, ainda, como um dos maiores desafios para a otorrinolaringologia.

O que são acufenos? São zumbidos, percepção de som (ou sons) na ausência de uma fonte sonora exterior. Em elevado grau de severidade é considerada uma das piores condições, afectando directamente a qualidade de vida (QDV).

Este sintoma pode estar relacionado com mais de 300 afecções, sendo difícil diagnosticar a(s) causa(s), existindo vários sistemas envolvidos na indução dos acufenos. Destaco o sistema psicológico, em especial, as situações clínicas de ansiedade e depressão na amplificação deste sintoma. Sem entrar em muitos pormenores, segundo o modelo neurofisiológico de Jastreboff, o zumbido é o resultado da interacção dinâmica de estruturas do sistema nervoso central, activando o sistema límbico (cérebro emocional), contribuindo para a amplificação do zumbido.


 A (hipno)psicoterapia tem-se revelado como uma proposta eficaz. Realço, o sucesso que a Hipnose Ericksoniana tem tido ao nível da diminuição do impacto dos zumbidos, melhorando a percepção geral da qualidade de vida (QDV). Esta abordagem da hipnose, mais permissiva, centrada na especificidade do cliente, de acordo com o seu sistema representacional, promove a activação dos recursos pessoais, adaptando a terapia ao sistema simbólico de cada pessoa. Assim, o cliente é profundamente envolvido, sendo que se pode trabalhar o auto-conceito, a percepção e o significado que este atribui ao sintoma.

Ao encontro desta linha de pensamento, sublinho a intervenção do Prof. René Dauman, responsável pelo Departamento de Audiologia da Universidade Hospital de Bordéus, ao referir a importância do sentido e do significado que os pacientes com acufenos atribuem à sua condição. Foi incontornável não se falar de Viktor Frankl pai da logoterapia, uma das personagens mais resilientes e que mais contribuíram para o conceito psicológico de resiliência, fulcral na psicologia positiva. Mais do que abordar a condição que é desenvolvida pelos acufenos, é importante trabalhar todos os sistemas que o rodeiam. Não esqueçamos que no conceito de resiliência encontramos a interacção dinâmica de 3 importantes factores: o pessoal (força interna, eu sou e estou); as crenças e conhecimentos (eu posso, eu sei) e o suporte social (eu tenho).

Na questão dos acufenos, como noutras, do foro clínico ou não, a resiliência estimula o desenvolvimento de empoderadores recursos pessoais, promovendo a contínua melhoria da qualidade de vida (QDV).



terça-feira, 20 de março de 2012

Connecting the Dots – Ligando os pontos…

Há dias dissertava com um amigo acerca dos factores de sucesso defendidos por Napoleon Hill, relembrando alguns: Auto-estima, Comunicação, Metas, Atitude, Acção, Ambição… Até que ponto esses factores não se influenciam mutuamente, proporcionando momentos de viragem, de mudança?

 A atitude – conceito central da psicologia social – é uma predisposição interna, estável e duradoura em relação a determinado objecto social (pessoas, instituições, ideias, objectos materiais, etc.) e é composta por três importantes componentes: cognitiva, comportamental e afectiva. Esta última, é frequentemente influenciada pelo conceito de auto-estima, reflectindo-se no comportamento, na acção.

Sem dúvida, que ao reflectir sobre os tópicos de Hill me apercebo que uns não fazem sentido sem os outros, pois servem de carburantes – como posso delinear objectivos se não tenho metas e como posso alimentá-las se não tenho ambição?

 Parece-me, sobretudo, importante a criação de uma base de organização mental, para que, seguidamente, se possa traçar o que se pretende atingir – (não) será isso o sucesso? Rapidamente me lembro de David Allen (a arte da produtividade sem stress) e de duas variáveis que apresenta como fundamentais: controlo e perspectiva. De facto, mais facilmente controlo aquilo que conheço… A comunicação joga aqui um papel primordial, facilitando o processo de auto-conhecimento e de empatia com o mundo exterior.

 Volto ao início e reconheço que os factores de Hill, trabalhados e potenciados, constituem-se como ingredientes essenciais para uma receita de sucesso. Há que reflectir, perspectivar, traçar e ajustar comportamentos, alimentando sempre a enorme vontade de ser, e sobretudo de criar. Embora específicos e únicos, todos se correlacionam, como pontos que se unem criando uma figura. Connecting the dots

quinta-feira, 15 de março de 2012

Auto-hipnose: explorando as potencialidades da sua mente.

O método da auto-sugestão baseado nas leis e princípios da sugestionabilidade (efeito dominante e lei da atenção concentrada) foi criado pelo farmacêutico francês Émile Coué. Este método funciona sob uma importante e elementar premissa: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, estou/vou cada vez melhor”.
A auto-sugestão é a pedra basilar da auto-hipnose. Imagine, por exemplo, dizer a si próprio, todos os dias, mentalmente esta frase, certamente acabaria por interiorizá-la…

Considere a auto-hipnose como um “exercício” de auto-comunicação que envolve concentração, mentalização, frequentemente acompanhado por relaxamento físico e mental.
Como fazer? Primeiro há que escolher um lugar onde possa estar confortável e designar o tempo que quer ficar em auto-hipnose. Outro factor decisivo e fulcral prende-se com o objectivo (clínico/não clínico...). Faça auto-hipnose para obter e/ou manter um estado/comportamento, ou seja, sempre com um propósito, uma finalidade. Embora pareçam aspectos óbvios, quando descurados são factores decisivos para o insucesso deste “exercício”.

Para entrar em auto-hipnose basta um simples fechar de olhos, concentrar-se na respiração e relaxar progressivamente. Pode recorrer à contagem mental, imaginando que à medida que vai descendo, vai aprofundar uma sensação de relaxamento. Embora com o corpo relaxado, a sua mente vai estar bem atenta e desperta, sendo esse o momento ideal para dar as sugestões positivas e fomentar a mudança. Para regressar desse estado pode contar mentalmente, agora, no sentido ascendente, sendo que à medida que continuar vai ficar mais desperto, trazendo consigo uma sensação de bem-estar.

Porque fazer? Sabe-se que o acesso a um estado mais profundo de relaxamento está relacionado com a produção de ondas cerebrais alfa e teta, consideradas ideais para a (auto)sugestão e visualização mental. A mudança de estado de consciência permite o acesso ao subconsciente. Note-se que é nas instâncias pré-conscientes que armazenamos a panóplia de emoções, pré-conceitos, automatizações muitas vezes responsáveis pela produção de crenças irreais, tão condutoras e redutoras da nossa percepção individual e do mundo.

Com a auto-hipnose podemos delinear objectivamente o que queremos alterar, operacionalizar a mudança do comportamento através de sugestões positivas e benéficas, orientadas para o que se quer atingir, criando e/ou reforçando um novo comportamento.

Tentado a experimentar? Então deixe que os seus olhos se fechem…


Falando sobre hipnose

Como já se percebeu a hipnose é uma das minhas paixões e umas das minhas ferramentas (psico)terapêuticas preferidas. Confesso que ao partilhar isto com amigos e colegas, frequentemente lhes salta o sobrolho com aquela expressão: a sério?!

O meu maior desafio tem sido desmistificar a hipnose.

Hipnose tem origem na palavra hypnos, que significa sono, mas hipnose não é sinónimo de dormir. Complicado, contraditório? Nem por isso. James Braid foi o pai da adjectivação do termo cuja prática é tão antiga quanto controversa. Mas o que é hipnose afinal?

Entende-se por hipnose, um estado alterado de consciência (e não de inconsciência) caracterizado por uma atenção focalizada e concentrada na experiência interna individual. Certamente já ficou completamente absorvido a ler um livro, sendo imediatamente transportado para um imaginário caracterizado por enorme concentração mental, como estivesse desligado de tudo o resto…. Ou então quando ficou preso em pensamentos e… não estava a dormir, pois não? Estava desligado e ao mesmo tempo focado… bem concentrado, imaginando, visualizando… bem isso é hipnose.

Imagine agora (estou apenas a sugerir) que quer auto-comunicar, delinear objectivos e atingi-los, obter relaxamento satisfatório, aprofundar o auto-conhecimento através da auto-sugestão… Conduzindo o seu pensamento, bem isso… é auto-hipnose.

Abra a sua mente a uma nova ideia e ela “jamais voltará ao seu tamanho original” (Albert Einstein).

segunda-feira, 12 de março de 2012

M de Mudança

Mês de Março, a chegada de uma nova estação, o despertar da Natureza, as limpezas habituais da Primavera… Sempre que penso nesta altura do ano, lembro-me de uma palavra causadora de tantos receios e algumas tempestades. Estou a falar de Mudança.

Limpar o sótão, esvaziar a mochila, bater com a porta – pequenos gestos… enormes passos de liberdade. (Não) querer é poder! Então, se há algo que o/a incomoda, não queira e… Mude. Sim, às vezes estamos presos a inúmeros pesos dos quais já não precisamos (se é que alguma vez precisamos!) a não ser para alimentar o nosso diálogo interior – aquela vozinha do “eu bem que te disse”.

Antes de Mudar há que dizer “não quero mais isto”! Pratique o desapego, renuncie, liberte-se, está sempre a tempo de Mudar. No entanto, convém salientar que ao remover a erva daninha do seu jardim, há que aproveitar a terra fresca e tratada para plantar outra semente. Aproveite esta Primavera: plante, germine, alimente e cuide da sua Mudança.

 Se por acaso a Mudança entrou na sua vida de rompante, sem que a tivesse plantado; imposta como um raio repentino que cai do céu; sem que tenha sido pedida ou desejada, perspective-a como um abanão para progredir e não para recuar. Pois como Pessoa brilhantemente disse: “Afinal, se coisas boas se vão é para que coisas Melhores possam vir”!

terça-feira, 6 de março de 2012

" Dans la vie il faut (d'abord) durer"

“Dans la vie il faut d'abord durer” (máximo de Hemingway). Na vida há que sobretudo resistir/(per)durar.

Mas antes de tudo, bem-vindo/a!


Este blogue não se destina apenas a mentes resilientes, mas sobretudo a todos os que se interessam por assuntos da mente. Sim, esse território tão desbravado pela ciência, pela filosofia, pela lógica, pelo oculto… sendo que ainda existe tanto para se dizer e (com)partilhar.

Pretendo com este blogue divulgar o que faço e que gosto de fazer… psicologia, hipnose clínica, comunicar… mas vamos directos ao assunto, o que é uma mente resiliente?

O conceito de resiliência é importado da física referindo-se à propriedade de alguns materiais que, quando submetidos a situações de exigência/esforço/tensão, acumulam energia e, por sua vez, não cedem à ruptura, retornando ao seu estado inicial (sem apresentar deformações nas suas principais características). Tome-se como exemplo o elástico, para a física, um material resiliente.

Para a psicologia a resiliência é estudada no âmbito do paradigma da psicologia positiva, existindo muitas abordagens quanto à sua epistemologia e aplicação. No entanto, pode-se referir que a resiliência se assume como a capacidade de lidar com obstáculos, problemas, resistir à pressão, apresentando uma resposta a situações adversas e desafiantes. Uma mente resiliente consegue evoluir inclusive em ambientes agressivos e desafiadores.

A resiliência implica a envolvência de alguns factores: gestão das emoções, auto-controlo, auto-eficácia, análise do meio/ambiente, optimismo, comunicação, empatia.

Complicado? Impossível? Nem por isso… deixo um vídeo do Lenine. A música explica-nos bem…