Há dias estava na praia, numa conversa animada com
uns amigos e reparei num grupo de surfistas que deslizavam nas ondas de um mar picado
e gelado, agreste mesmo. Admiro particularmente o entusiasmo e a satisfação que
retiram do constante desafio com as águas salgadas.
Fez-me lembrar Harrison Owen
(Wave Rider: Leadership for High Performance in a
Self-Organizing World) acerca da idiossincrasia dos wave riders, que têm uma capacidade
de se deixarem levar (go with the flow)
e de se superarem perante a dificuldade, enquanto que outros vêem desgraça ou
falhanço.
Mas, para se aprender a “andar na onda” (um oximoro interessante) é
necessário experimentar e adaptar a nossa forma andar. Dizia um meu amigo: “Não
se estuda a andar no mar. Experiencia-se, aprende-se perante as ondas!” Na
verdade, tirando a pequena lição de equilíbrio na prancha que é feita no areal,
só dentro de água é que se experiencia e aprende, realmente, a surfar…

A conversa continuou: “há que ver as condições
antes de ir para o mar, se o vento está a favor, como está a corrente… e depois
há que entrar!”. Atitude, perspectiva, avaliação e decisão. Determinar as condições
e como vou lidar com elas, para atacar e aproveitar uma boa onda.
Recorrendo à analogia do surf para a encarar o
processo de desenvolvimento, percebemos que ninguém nos ensinou a andar, fomos
aprendendo, caindo e levantando. Mais interessante, ainda, criamos um andar,
único. Se se pensar que a única constante
é a mudança (Heraclitus), certamente aparecerão muitas ondas, umas mais difíceis
outras mais fáceis, e aquelas assustadoras, que no final poderão ser as que mais
orgulhosamente recordaremos de ter surfado (na crista).
Ao pensar em tudo isto vejo, sem dúvida, um
excelente exemplo de resiliência. Nunca a expressão “na crista da onda” fez tanto sentido.