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terça-feira, 26 de junho de 2012

Da sabedoria popular


Mês de Junho, mês de romarias, santos populares, festas pelo país inteiro. Sempre que penso em Junho, penso em quadras e rimas tão evidentes do pensamento popular – Vox Populi - porque a voz do povo é, por vezes, a voz da razão… Das previsões meteorológicas, das crendices aos provérbios, o conhecimento popular não deixa de ser fascinante sobretudo pelos seus alicerces seculares e até mesmo ancestrais.

 Entendida como sabedoria popular, baseada no senso comum tão presente no conhecimento empírico (John Locke), esta forma de sabedoria tem como base características culturais e ideológicas idiossincráticas de um povo, permitindo-lhe criar e promover os seus recursos mais directos.

Muitas vezes olhada de soslaio pelo facto de não seguir padrões científicos estruturados, curiosamente, esta forma de conhecimento não deixa de assentar nalguma racionalidade… No fundo, trata-se de uma forma de conhecimento mais democrática, gratuita, generalizada, reveladora de tradições locais, transmitida geracionalmente.

Não sou acérrima defensora de uma única forma de pensamento baseado na ciência, pelo contrário a existência de (mais) correntes fora da estrutura científica formal, longe dos paradigmas científicos, apenas servirá para o enriquecimento do conhecimento per si. No entanto, a mesma rigidez muitas vezes se verifica para quem acha que na sabedoria popular encontrará o “terminus” do seu conhecimento/pensamento… Como se costuma dizer nem 8 nem 80, pois claro…


Existem várias formas de saber e/ou de conhecimento, muito genericamente serão de índole (de) senso comum, filosófica, científica, espiritual e artística, sendo que se imiscuem e por vezes confundem… Lembra-se da epistemologia? (filosofia da ciência). Assim sendo, nada se perde tudo se transforma… numa qualquer forma de conhecimento, basta observar, reflectir, registar, sentir, imaginar, (…) e querer, pois: "Longa viagem começa por um passo" - Provérbio Chinês.

terça-feira, 19 de junho de 2012

(Psic)analiticamente falando…


Há dias (re)vi o Prof. António Coimbra de Matos na televisão, (para os mais distraídos: psiquiatra, psicanalista, professor…) abordando a psicanálise com uma simplicidade de quem domina perfeitamente o assunto. A simplicidade é sem dúvida o patamar mais elevado da sofisticação…

Muitas vezes “maltratada” a escola psicanalítica trouxe incríveis contributos para a psicologia e para o desenvolvimento da hipnose clínica per si.

A abordagem psicanalítica tem como pioneira a reconhecida figura central de Sigmund Freud. As suas contribuições foram muito relevantes e inegáveis, veja-se a caracterização do aparelho psíquico e a introdução de uma terceira instância das estruturas mentais até então desconhecida ou perfeitamente ignorada, o inconsciente.

De realçar, ainda, o papel da infância no desenvolvimento de perturbações psicológicas, a existência de sexualidade infantil através da caracterização dos estádios psicossexuais do desenvolvimento da personalidade.

Embora muito criticado, Freud teve um contributo fundamental para a consolidação das teorias do desenvolvimento da personalidade, levadas a cabo por muitos neo-freudianos e psicanalistas revisionistas, por exemplo, Carl Jung, Alfred Adler ou, até mesmo, pela Gestalt (Fritz Perls).

Jung conferiu um papel activo ao inconsciente, propondo a definição de Inconsciente Individual e Inconsciente Colectivo, sendo este último, caracterizado por maior profundidade, herdado geneticamente, como se tratasse de traços funcionais comuns a todos os seres...

Alfred Adler, por sua vez, preconizou a psicologia individual concebendo cada indivíduo como um ser único, como uma totalidade integrada num sistema social. O desafio terapêutico consiste na adaptação do indivíduo à vida, sendo este o agente criativo da sua própria personalidade.

Em meados do século passado, Fritz Perls propõe a Gestalttherapie em oposição às duas correntes vigentes na época: comportamentalismo e psicanálise. A Gestalt fundamentou-se no Existencialismo situando-se muito próximo da Fenomenologia, considerando como seu âmago o encontro existencial, defendido por todas as terapias existencialistas.

De facto, a escola psicanalítica foi evoluindo ao longo do tempo, ramificando-se em diferentes abordagens, com importantes contributos, que na minha opinião só a enriqueceram; relembremos que o mundo não estagna e a psicoterapia não é dogma ou religião, certamente…

Volto novamente a Coimbra de Matos. A sua obra é também vasta, (A depressão; Adolescência; Mais Amor Menos Doença; O Desespero…) mas o que prefiro destacar é a sua humanização na relação terapêutica, longe dos arquétipos, longe do artificialismo de uma relação perfeita terapeuta-cliente.
António Coimbra de Matos fala de um ingrediente, busílis na relação terapêutica (tão bem defendido por Rogers), e da ausência deste, degeneradora em patologia. Fala-nos de amor (na acepção universal). 

Dito isto, seria importante que o estereótipo (que ainda existe) acerca da psicanálise fosse “desconstruído” e/ou “analisado”, pois longe vão os tempos dos pêndulos, dos infindáveis “ hum…huh…” e dos livrinhos com o significado dos sonhos…





terça-feira, 12 de junho de 2012

The world is your oyster!





Certamente, lá dentro, encontrará a pérola pela qual procura há muito tempo. O quê não a procura? Deixou de a procurar? Para se encontrarem pérolas é preciso apanhar ostras e ter arte e engenho para as abrir…


A expressão remonta aos tempos de Shakespeare, tendo-a, o brilhante escritor, incluído numa das suas famosas peças - The Merry Wives of Windsor (As Alegres Senhoras de Windsor):
“Why then the world's mine oyster/Which I with sword will open”.


Num mar de oportunidades haverá muitas ostras para apanhar e cultivar. A arte de cultivar ostras tem sido muito difundida, no entanto, são necessários sólidos conhecimentos para se conseguir uma boa produção dessa fauna marinha. A sua sobrevivência está sujeita a enormes desafios, na medida em que apenas duas num milhão (!) atingem a idade adulta. Com aspecto severo e cru, poucos alimentos se comparam às ostras, muito ricas em cobre e ferro, com elevado teor de proteínas e vitaminas...um autêntico suplemento alimentar! Até pode não apreciar ostras, mas fazem bem à saúde...

A ostra é ainda considerada um indicador biológico, sendo um organismo que reflecte as condições do ambiente onde se insere. Dito isto, gostaria de apontar que a sua qualidade está relacionada com o ambiente e o microssistema, numa relação de causa-efeito. Assim sendo, ao melhorar as condições ambientais  irá, provavelmente, obter maior probabilidade de sucesso de encontrar a sua pérola…


O que o tem impedido de encontrar a sua pérola? Pois… é verdade, existem ostras que apesar de tudo não têm pérolas, no entanto, pelo facto de não terem “valor de mercado”, não significa que não as possa apreciar devidamente.

Lembre-se que nada o impede de continuar a explorar, a investir e quem sabe, encontrar brilhantes e preciosas pérolas! Afinal de contas o mundo é a sua ostra!

















terça-feira, 5 de junho de 2012

Carpe Diem





“Carpe Diem” - quem (não) se recorda desta expressão em latim, popularizada pela sensível e imortalizada obra cinematográfica “Dead Poets Society” (O Clube dos Poetas Mortos)?

Podemos dominar teórica e intelectualmente inúmeros conceitos, mas ao não usufruir da sua prática, serão apenas palavras, meros conceitos pousados numa vitrina, deixados à mercê dos tempos…

Para os menos familiarizados com a expressão, “Carpe Diem” significa “Aproveita o Dia” perdoem-me os mais puristas e filólogos, mas penso que a designação estará bem aproximada.

Há quem considere esta expressão latina “desengonçada” e já banalizada. Talvez o seu uso tenha sido, por vezes, superficial e abusivo, porém é um dos melhores conselhos de sempre, na minha modesta opinião…
Gilles Lipovetsky (A Felicidade Paradoxal, A Era do Vazio) refere o uso banalizado da expressão numa sociedade hipermoderna caracterizada pelo consumismo selvagem e pelo vazio interior, marcados pela efemeridade do tempo. Porém, não é pelo facto de se utilizar “cinicamente” um conceito que este passa a perder a sua validade e essência, certamente…

A questão é aparentemente fácil de colocar, mas parece-me mais trabalhosa de avaliar (com rigor). Quando se coloca no topo apenas os desafios e as metas a atingir, como pesados fardos que se vão carregando às costas, opta-se pela concentração no peso que se transporta, deixando-se de observar e apreciar o caminho a percorrer. Deixa-se de viver para sobreviver; automatizam-se comportamentos, confunde-se rigor e disciplina com ausência de alegria e satisfação.

Parece-me incontornável a obra de Eckart Tolle (Poder do Agora), a mensagem é simples, viver um dia de cada vez, viver o momento, o presente: “Não siga o passado, não se perca no futuro (…) O céu é Aqui e Agora, não o procure  noutro lugar".
Com os múltiplos desafios do quotidiano (incontestavelmente importantes) há que estar pronto para responder à altura a todas as exigências, porém, convém não esquecer o direito (!) a divertir-se e a poder relaxar… sim a descontrair!

Dito isto, gostaria apenas de relembrar que pode, sempre que quiser, respirar fundo e desfrutar daquilo que o rodeia, pois (quase) tudo padece de efemeridade… por isso “enjoy yourself it’s later than you think”.






sexta-feira, 1 de junho de 2012

Acerca da modelagem


A teoria da aprendizagem social (Albert Bandura) assenta na técnica da modelagem que consiste no princípio do reforço de “comportamentos aproximados” que se vão ajustando sucessivamente a um determinado modelo, i.e. num processo gradual em que as respostas se assemelham ao comportamento desejável. A modelagem é também designada como “método das aproximações sucessivas”.

A figura vicariante é importante, na medida, em que serve de modelo orientador para a alteração do comportamento, considere-se, a título de exemplo, o estudo dos estilos de comunicação no treino da assertividade.

Actualmente, a assertividade instalou-se e cimentou-se nos vocabulários clínico, empresarial, de desenvolvimento pessoal, sendo (uma exigência) transversal nos mais variados campos de acção profissionais.

O treino para a assertividade tem raízes comportamentalistas/behaviorismo social, mas foi com os contributos de Rogers (humanismo) baseados na lista de direitos humanos (Constituição dos E.U.A) que se fundamentou esta abordagem.
A promoção da assertividade passa pela tomada de consciência (insight) da linguagem corporal (não verbal), tom de voz e linguagem aquando de um relacionamento interpessoal, por exemplo. Veja-se, que, o treino para a assertividade é também muito frequente na Programação Neurolinguística (PNL) - trata-se de alterar os padrões instituídos de comunicação e modelá-los de acordo com metas e objectivos definidos.

Dito isto, gostaria que ficasse claro que não advogo a reprodução automatizada de comportamentos, como se o indivíduo se tratasse de uma simples tábua rasa. O treino da assertividade serve como uma mais-valia para “trabalhar” a performance, sobretudo ao nível das competências sociais, recorrendo-se ao ensaio e à modelagem propriamente dita. Realçam-se os exemplos do treino na ansiedade de performance (desportiva, protocolar, falar em público, entre outros).
Porém é, também, importante enfatizar a tomada de consciência (insight) dos processos interiores de funcionamento ao nível cognitivo e emocional, lembra-se das crenças? (cf. texto anterior). Assim, promove-se a alteração de perspectivas, importantes para a promoção da mudança e da interiorização de novos padrões de comportamento.

Já pensou que poderá ser interessante vestir novas peles, olhar através de diferentes lentes, perspectivar diferentes ângulos? E quem sabe introduzir mudança naquilo que acha que poderá  (ainda) melhorar e aperfeiçoar…

Uma escolha de vias

Na semana passada revisitei a excelente obra de Júlio Verne "A Volta ao Mundo em 80 dias". Ah! Percorrer o mundo inteiro a uma velocidade estonteante. Porém, pelo simples facto de passarmos num lugar ficamos a conhecê-lo?
Por vezes, há que investir tempo, pois nem tudo se resume a uma corrida desenfreada para ver quem chega primeiro, e quem aposta na velocidade pode não alcançar imediatamente a sua meta. Lembra-se da lebre e da tartaruga?

Pode-se sempre optar por explorar diferentes caminhos, alcançando a meta com outras perspectivas... certamente com outro grau de conhecimento.

Imagine um processo de tomada de decisão, das 4 opções que se seguem, qual é a que mais se assemelha com o que faz habitualmente?

1. Não perde tempo, investe imediata e intuitivamente;

2. Explora, para depois decidir e investir;

3. Passa a vida a procurar, a explorar indefinidamente…

4. Fica “preso”, difuso na tomada de decisão.


Provavelmente, a predominância de uma destas atitudes estará ligada aos resultados que tem obtido...
Por isso, quando se deparar com uma escolha de vias, pense que se optar por explorar uma via diferente, entrará num território desconhecido, poderá ter de investir mais tempo até chegar à meta. Porém, se optar imediatamente pelo que lhe parece ser o atalho mais curto, certamente, continuará a obter o imediato resultado de sempre.