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terça-feira, 19 de junho de 2012

(Psic)analiticamente falando…


Há dias (re)vi o Prof. António Coimbra de Matos na televisão, (para os mais distraídos: psiquiatra, psicanalista, professor…) abordando a psicanálise com uma simplicidade de quem domina perfeitamente o assunto. A simplicidade é sem dúvida o patamar mais elevado da sofisticação…

Muitas vezes “maltratada” a escola psicanalítica trouxe incríveis contributos para a psicologia e para o desenvolvimento da hipnose clínica per si.

A abordagem psicanalítica tem como pioneira a reconhecida figura central de Sigmund Freud. As suas contribuições foram muito relevantes e inegáveis, veja-se a caracterização do aparelho psíquico e a introdução de uma terceira instância das estruturas mentais até então desconhecida ou perfeitamente ignorada, o inconsciente.

De realçar, ainda, o papel da infância no desenvolvimento de perturbações psicológicas, a existência de sexualidade infantil através da caracterização dos estádios psicossexuais do desenvolvimento da personalidade.

Embora muito criticado, Freud teve um contributo fundamental para a consolidação das teorias do desenvolvimento da personalidade, levadas a cabo por muitos neo-freudianos e psicanalistas revisionistas, por exemplo, Carl Jung, Alfred Adler ou, até mesmo, pela Gestalt (Fritz Perls).

Jung conferiu um papel activo ao inconsciente, propondo a definição de Inconsciente Individual e Inconsciente Colectivo, sendo este último, caracterizado por maior profundidade, herdado geneticamente, como se tratasse de traços funcionais comuns a todos os seres...

Alfred Adler, por sua vez, preconizou a psicologia individual concebendo cada indivíduo como um ser único, como uma totalidade integrada num sistema social. O desafio terapêutico consiste na adaptação do indivíduo à vida, sendo este o agente criativo da sua própria personalidade.

Em meados do século passado, Fritz Perls propõe a Gestalttherapie em oposição às duas correntes vigentes na época: comportamentalismo e psicanálise. A Gestalt fundamentou-se no Existencialismo situando-se muito próximo da Fenomenologia, considerando como seu âmago o encontro existencial, defendido por todas as terapias existencialistas.

De facto, a escola psicanalítica foi evoluindo ao longo do tempo, ramificando-se em diferentes abordagens, com importantes contributos, que na minha opinião só a enriqueceram; relembremos que o mundo não estagna e a psicoterapia não é dogma ou religião, certamente…

Volto novamente a Coimbra de Matos. A sua obra é também vasta, (A depressão; Adolescência; Mais Amor Menos Doença; O Desespero…) mas o que prefiro destacar é a sua humanização na relação terapêutica, longe dos arquétipos, longe do artificialismo de uma relação perfeita terapeuta-cliente.
António Coimbra de Matos fala de um ingrediente, busílis na relação terapêutica (tão bem defendido por Rogers), e da ausência deste, degeneradora em patologia. Fala-nos de amor (na acepção universal). 

Dito isto, seria importante que o estereótipo (que ainda existe) acerca da psicanálise fosse “desconstruído” e/ou “analisado”, pois longe vão os tempos dos pêndulos, dos infindáveis “ hum…huh…” e dos livrinhos com o significado dos sonhos…