Há dias (re)vi o Prof. António Coimbra de Matos
na televisão, (para os mais distraídos: psiquiatra, psicanalista, professor…)
abordando a psicanálise com uma simplicidade de quem domina perfeitamente o
assunto. A simplicidade é sem dúvida o patamar mais elevado da sofisticação…
Muitas vezes “maltratada” a escola psicanalítica
trouxe incríveis contributos para a psicologia e para o desenvolvimento da
hipnose clínica per si.
A
abordagem psicanalítica tem como pioneira a reconhecida figura central de
Sigmund Freud. As suas contribuições foram muito relevantes
e inegáveis, veja-se a caracterização do aparelho psíquico e a
introdução de uma terceira instância das estruturas mentais até então
desconhecida ou perfeitamente ignorada, o inconsciente.
De realçar, ainda, o papel da infância no desenvolvimento
de perturbações psicológicas, a existência de sexualidade infantil através da
caracterização dos estádios psicossexuais do desenvolvimento da personalidade.
Embora muito criticado, Freud teve um contributo fundamental
para a consolidação das teorias do desenvolvimento da personalidade, levadas a
cabo por muitos neo-freudianos e psicanalistas
revisionistas, por exemplo, Carl Jung, Alfred Adler ou, até mesmo, pela Gestalt
(Fritz Perls).
Jung conferiu um papel activo ao inconsciente, propondo
a definição
de Inconsciente Individual e Inconsciente Colectivo, sendo este último, caracterizado
por maior profundidade, herdado geneticamente, como se tratasse de traços
funcionais comuns a todos os seres...
Alfred Adler, por sua vez, preconizou a
psicologia individual concebendo cada indivíduo como um ser único, como
uma totalidade integrada num sistema social. O desafio terapêutico
consiste
na adaptação do indivíduo à vida, sendo este o agente criativo da sua própria
personalidade.
Em meados do século passado, Fritz Perls propõe
a Gestalttherapie em
oposição às duas correntes vigentes na época: comportamentalismo e psicanálise.
A
Gestalt fundamentou-se no Existencialismo situando-se muito próximo
da Fenomenologia, considerando como seu âmago o encontro existencial,
defendido por todas as terapias existencialistas.
De facto, a escola psicanalítica foi evoluindo
ao longo do tempo, ramificando-se em diferentes abordagens, com importantes
contributos, que na minha opinião só a enriqueceram; relembremos que o mundo não
estagna e a psicoterapia não é dogma ou religião, certamente…
Volto novamente a Coimbra de Matos. A sua obra é
também vasta, (A depressão; Adolescência; Mais Amor Menos Doença; O Desespero…)
mas o que prefiro destacar é a sua humanização na relação terapêutica,
longe dos arquétipos, longe do artificialismo de uma relação perfeita
terapeuta-cliente.
António Coimbra de Matos fala de um ingrediente,
busílis na relação terapêutica (tão bem defendido por Rogers), e da ausência deste, degeneradora em patologia. Fala-nos de amor (na acepção universal).
Dito isto, seria importante que o estereótipo
(que ainda existe) acerca da psicanálise fosse “desconstruído” e/ou “analisado”,
pois longe vão os tempos dos pêndulos, dos
infindáveis “ hum…huh…” e dos livrinhos com o significado dos sonhos…